Olá amigos,
Ontem estive na ABRATA (Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos) em uma interatividade entre portadores, amigos e familiares.
Foram vários os temas abordados e dentre eles o que tratarei nesse artigo.
Em paralelo, hoje passei pela Av. Adolfo Pinheiro próximo à estátua do Borba Gato, em Santo Amaro, onde está sendo construída a estação Borba Gato do metrô da linha 5 – lilás.
E surge a pergunta: qual o paralelo entre os dois acontecimentos? A vida não para.
Ontem uma das reclamações dos portadores era de que muitas vezes precisam do apoio da família e dos amigos e não encontram esse apoio e eu fiz um breve comparativo da doença do transtorno do humor com qualquer outra doença ou um acontecimento grave.
No começo você desperta a compaixão e chama a atenção das pessoas, mas com o tempo tudo volta ao estado original. Vejamos alguns exemplos:
– Morre um amigo seu. Ao receber a notícia você corre para encontrar a família, ajuda no que for necessário, acompanha até o enterro. Depois se despede no cemitério mesmo e volta para casa.
No momento da morte a dor é tão grande, e digo isso porque já passei por diversas vezes, durante a liberação do corpo, velório, enterro tudo é tão desesperador que chegamos a ficar anestesiado. Mas quando tudo termina e precisamos voltar para casa, o sangue começa esfriar e a dor vai surgindo, aumentando, sufocando, te matando por dentro também.
E nessa hora muitas vezes não tem amigos, não tem familiares por perto, sofre sozinho quem morava junto com a pessoa.
Os mais próximos ligam todos os dias, passam uma ou duas vezes por semana, mas posteriormente as ligações vão diminuindo, as visitas também e a vida vai continuando, independente da sua dor, da sua superação dos fatos.
– Um amigo seu sofre um acidente de trânsito ou precisa passar por uma cirurgia.
Você o leva para o hospital, o visita todos os dias até ele voltar para casa e depois você passa a fazer visitas a cada dois dias, duas vezes por semana, só liga e depois lembra-se que já faz duas semanas que nem liga.
Se for uma recuperação rápida beleza, mas se ele continua em recuperação, com certeza ele continua precisando da sua ajuda.
– Um terremoto, um deslizamento de terra, um incêndio, enchentes, etc. Todos provocam uma grande comoção na sociedade. São feitas campanhas humanitárias, a imprensa faz grandes coberturas, mas basta um novo acontecimento para os holofotes mudarem de direção e muitas vezes ninguém mais procura saber se ao menos aquela ajuda realmente chegou ao destino.
No caso de uma cidade é a mesma coisa, não se pode parar um bairro, uma região por causa de uma obra, mesmo que seja grande como a construção de uma linha de metrô.
Enquanto a obra acontece a rotina da cidade continua ao lado, por cima e/ou por baixo.
E todos esses exemplos me fizeram chegar a conclusão que a vida nunca vai nos poupar independente do que estejamos passando, até mesmo porque não existe uma vida só minha, eu sou apenas parte do processo.
Não é porque estou doente que meus amigos e familiares receberão férias ou poderão pedir as contas para ficar o tempo todo ao meu lado. Mesmo que eu tenha perdido a pessoa mais importante para mim, as outras pessoas não poderão parar para esperar minha dor amenizar.
Nem eu mesmo poderei ficar parado. Terei que voltar a trabalhar, terei que voltar aos estudos, dar atenção a filhos, caso os tenha e assim por diante.
Principalmente no caso da depressão, a vontade de reclusão é muito forte e mesmo sendo um portador, não estou aqui para ensinar nenhum tratamento ou dar lição de vida a ninguém. Mas quando estivermos bem temos que pensar que precisamos prosseguir na vida até o momento que cairmos novamente.
Se vamos conseguir prosseguir um longo ou pequeno caminho, não importa. O importante é não perder a oportunidade de desenvolvimento, porque a vida meus amigos não para.
Abraços, Sam.