Olá amigos,

 

Durante tantos anos nossos avós, pais e nós que já temos mais de trinta anos, esperamos pelo futuro.

Um futuro onde as máquinas dominariam o mundo e a participação da humanidade começasse a ser reduzida.

O futuro está chegando e dentro de três a oito anos tudo o que conhecemos pode ser diferente e teremos que a nos adaptar a nova forma de viver, sem a chance de escolher continuar como somos.

Para explicar melhor isso, conversamos com um dos nossos colunistas Heller de Paula.

 

Você é formado em design digital, trabalhou com UX (User Experience) e hoje trabalha com design thinking. Qual a função de cada profissional dessas áreas e como se deu essa transição?

Heller de Paula: É interessante que na verdade tudo está interligado.

O Design Digital – minha formação – me possibilitou projetar soluções para diversos contextos, só que teve maior foco no segmento digital.

O UX (User Experience) pode ser entendido como a aplicação do design no desenho de experiências digitais, então essa transição foi muito natural, eu diria até que foi mais uma escolha minha de caminho para especialização dentro do universo de possibilidades que design abrange do que uma transição.

E pensando que UX é algo bastante recente, que teve seu início na Arquitetura de Informação, eu posso dizer que comecei a exercer essa função bem quando ela nascia e quase ninguém conhecia (risos).

O Design Thinking na verdade é um movimento, não chega a ser uma profissão em si.

Esse movimento começou quando designers perceberam que a sociedade tinha muito a ganhar utilizando os métodos e processos que usamos no campo do design para solucionar seus próprios problemas, em seus mais diferentes contextos.

Hoje eu me apresento como Designer de Serviços, que é um profissional que aplica o design para o desenvolvimento de serviços e se alimenta do movimento do Design Thinking para engajar diferentes profissionais – mesmo que sem formação em design – nesse desenvolvimento.

Parece meio complexo, mas juro que não é (risos).

 

No seu trabalho você estuda muito as inovações e tem uma visão melhor do que a grande maioria da população do que está por vir. O que você destacaria de revolucionário a curto, médio e longo prazo?

Heller de Paula: Até 2020 esperamos que muita coisa mude.

Atualmente eu tenho estudado 12 grandes tecnologias com potencial de mudar nossa estrutura social profundamente.

Mas dessas eu destacaria a realidade virtual, os veículos autônomos e a robótica avançada como as mais rápidas a nos impactar.

Em médio prazo o blockchain, automação do trabalho intelectual e o sequenciamento dos genes podem nos impactar profundamente.

Mais a longo prazo talvez a impressão 3D e os materiais avançados com nanotecnologia podem reestruturar totalmente nossas relações comerciais e pessoais.

 

As pessoas que estão em outras áreas estão cientes que estamos dentro de uma revolução digital e que essa terá consequências muito maiores do que foi a revolução industrial e outras revoluções que aconteceram durante a história da humanidade?

Heller de Paula: Talvez não em larga escala, mas essa consciência tem se tornado difundida rapidamente.

Em junho desse ano, por exemplo, saiu um relatório que avaliou o investimento das empresas para se adaptarem à revolução digital em cerca de US$ 1,2 trilhão e esse valor deve chegar a US$ 2 trilhões até 2020.

Isso já é um indício do movimento e consciência das empresas, pelo menos as maiores, sobre essa transformação.

 

Quando as impressoras 3D estarão disponíveis para o público em geral como são as impressoras a tinta e a laser hoje? Você crê que haverá alguma restrição governamental a fim de evitar que qualquer coisa seja criada aleatoriamente colocando em risco a sociedade?

Heller de Paula: Atualmente já é possível comprar impressoras 3Ds com facilidade, porém, como toda tecnologia em início, elas são lentas e barulhentas, podem apresentar problemas com facilidade e são pouco úteis de um modo geral.

Para os entusiastas, é maravilhoso, mas essa tecnologia ainda vai evoluir bastante para gerar o rompimento gigantesco que seu potencial indica. E isso deve ser mais rápido do que muitos imaginam.

Os governos podem criar restrições, e alguns com certeza farão isso, porém será cada vez mais difícil para esses controles serem eficazes na sociedade que estamos vendo nascer.

O melhor caminho é o Estado envolver mais o cidadão, as empresas e ele próprio em uma conversa multidisciplinar de forma a cocriar maneiras de lidar com essas tecnologias e com os desafios que teremos no futuro.

E nesse sentido o design, dentro do movimento do design thinking, pode ser uma escolha inteligente para avançarmos e construirmos esses debates.

 

 

Para cada objeto a ser impresso é um material diferente que precisa ou de um único material a impressora é capaz de imprimir qualquer coisa?

Heller de Paula: Cada impressora usa sua matéria-prima, mas a partir dela é possível construir diversas coisas.

O interessante é que o objeto impresso pode depois se tornar matéria-prima novamente.

 

Com a impressora 3D imprimindo órgãos do corpo humano, caminhamos para imortalidade? Em quanto tempo teremos robôs humanoides?

Heller de Paula: A previsão é que quem nascer a partir de 2020 poderá escolher futuramente se quer ou não ser imortal.

Essa provavelmente será mais uma das grandes questões filosóficas que serão discutidas, afinal, por exemplo, se você pode ser imortal, mas decide morrer, isso poderá ser interpretado como suicídio? E isso é só a ponta do iceberg (risos).

Já temos robôs que se aproximam de nós. Bonecas para entretenimento adulto, por exemplo, já vêm ganhando uma realidade que oscila entre o surpreendente e o assustador.

E, se de outro lado, a inteligência artificial vem evoluindo, não demora a termos esses robôs.

A pergunta será como lideraremos com eles? E como eles lidaram com a gente?

 

É sabido que já houve a experiência de uma máquina criar um problema e outra resolver sem a necessidade da interferência humana. Os filmes de ficção científica estão saindo do imaginário de seus diretores e virando realidade?

Heller de Paula: Os filmes pesquisam muito para construir suas narrativas, boa parte do que vemos vem de empresas sérias que estudam essas mudanças e se tornam consultoras nas obras de ficção científica, então é muito comum que algumas ou muitas coisas dos filmes se tornem reais.

Então, na próxima vez que ver um filme assim, fique atento ao que está sendo apresentado (risos).

 

Em junho de 2017, na seção de Economia e Negócios do Estadão foi publicado que a partir de 2019 a Volvo só fabricará carros elétricos e híbridos. É uma tendência das montadoras deixarem de usar o petróleo como utilizamos hoje? Quais os principais benefícios e malefícios que isso trará a humanidade?

Heller de Paula: O petróleo é um recurso finito e nós precisamos e estamos estudando maneiras mais inteligentes de gerar e consumir energia.

A energia renovável, mais que um hype, será uma necessidade de sobrevivência. As empresas devem e precisam se adaptar a isso o quanto antes.

O bom é que isso trará mais benefícios que malefícios. Porém é importante termos um ponto de atenção nas baterias e no descarte disso posteriormente, ou seja, temos que ser sustentáveis de ponta a ponta.

 

Quando você acha que estará disponível para a população brasileira os carros auto dirigíveis?

Heller de Paula: Acredito que os maiores obstáculos da adoção desse tipo de tecnologia no Brasil será o governo, que está tão afogado tentando se manter vivo, que não consegue fazer aquilo para o qual foi criado. Isso pode nos prejudicar bastante.

Outro aspecto é cultural, mas isso vai mudar gradativamente.

De qualquer maneira, essa mudança é inevitável. Se não vierem os totalmente autônomos, com certeza os quase autônomos não demoram a circular por aqui.

 

Outro dia em uma conversa informal, até mesmo por causa das impressoras 3D, carros auto dirigíveis e mais um monte de inovações tecnológicas, você me falou que a economia capitalista como conhecemos hoje está chegando a data de prazo de validade. O que deve substitui-la?

Heller de Paula: Para ser sincero, não sei (risos). Isso será algo que criaremos juntos a cada novo impacto que essas tecnologias gerarem na nossa sociedade.

A economia colaborativa, por exemplo, já vem mudando nossas relações e isso é só o começo.

Por isso reforço que a construção desse futuro tem que partir da colaboração e cocriação entre a sociedade, as empresas e os governos.

 

Essa mudança na economia, por certo, irá mudar completamente a forma de como se fazer política. Algum país já tem se preparado para isso? Há alguma indicação de como serão esses novos tempos?

Heller de Paula: Poquíssimos debatem isso de forma franca.

Muitos governantes não se preparam para isso principalmente porque não aceitam a mudança.

Esses novos paradigmas colocam em xeque a ideia de governo como conhecemos, tirando o poder deles e diluindo esse poder pela sociedade.

Vejo muitos governos se debatendo na tentativa de se manterem relevantes, com medo de perder essa ilusão de poder. Com isso lançam mão, por exemplo, do medo, tentando assustar mais as pessoas que já tem medo dessas mudanças.

Mas quero crer que essas mudanças vão acontecer, quer gostemos ou não.

E nesse caso vale lembrar o Peter Drucker quando diz que a melhor maneira de prever o futuro, é criá-lo, então vamos cria-lo da melhor maneira para todos nós.

 

Essas inovações tende a deixar uma parte muito grande da população mundial em condições de miséria por diminuir empregos e por não ter capacitação para acompanhar tais mudanças?

Heller de Paula: Sim e não (risos).

É fato que essas tecnologias emergentes vão inevitavelmente substituir muito da mão-de-obra humana atual gerando desemprego.

Isso pode gerar situações de maior miséria dentro do atual sistema econômico que é baseado na escassez, ou seja, para um ganhar outro tem que perder.

Contudo essas tecnologias podem inclusive mudar a economia, gerando uma rede de abundância, justamente o contrário do que vivemos hoje.

Nesse sentido temos uma chance histórica de mudar completamente o cenário econômico mundial e, ao invés de gerar mais miséria, erradicar ela definitivamente por meio de um novo modelo mental e de comportamento.

Claro que isso depende de nós e de como vamos nos comportar diante dessas mudanças.

 

Como devemos nos preparar para tudo isso? O que estudar, no que investir?

Heller de Paula: Como leituras iniciais eu indicaria o livro Abundância de Peter H. Diamandis e Steve Kotler e o Sociedade com custo marginal zero do Jeremy Rifkin.

Profissionalmente eu sempre indico estudar Design e Programação (risos).

E quando for investir, invistam em empatia, conversas e cocriação (risos).

Para fechar, imagino que a próxima grande onda que virá provavelmente no campo da inovação social, então olhem com carinho para o empreendedorismo social.

 

Quando a revolução digital/tecnológica terminar, se é que ela terá fim, estaremos do outro lado do apocalipse?

Heller de Paula: Se o apocalipse for o final de algo para o começo de outra coisa melhor, eu diria que sim.

 

Agradeço muito a participação do Heller e caso você se interesse em saber mais sobre inovações, futuro tecnológico, econômico e outros assuntos super interessantes, acesse seu site.

E continuemos lutando por dias melhores, para sempre.

 

Abraços, Sam.

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